Diocese se empenha para que Mosteiro Concepcionista de Caratinga continue existindo

23 de julho de 2019

A Diocese de Caratinga se esforça para manter o Mosteiro Nossa Senhora do Rosário e São José, de portas abertas. O envelhecimento das Monjas Concepcionistas e a queda das vocações é uma realidade em todo o mundo e em Caratinga não é diferente. Atualmente o Mosteiro conta com apenas quatro irmãs, com capacidade para abrigar o total de 15. A mais velha, Irmã Maria dos Anjos Vieira, tem 85 anos de idade.

Em outras épocas, o Mosteiro já chegou a abrigar 17 irmãs, quando ainda funcionava na Avenida Moacir de Matos. A diminuição no número de vocacionadas preocupa, pois de 28 de janeiro a 2 de fevereiro deste ano, a Federação dos Mosteiros Concepcionistas do Brasil, que se compõe de 17 Mosteiros, realizou em São Paulo (Mosteiro da Luz), Assembleia extraordinária, com a presença de 14 deles. Foi deliberado em obediência às determinações da “Cor Orans”, que os Mosteiros com menos de 6 irmãs deveriam se decidir se se fecham ou se se filiam a outro.

Em Caratinga, por ora, a decisão é de não fechar as portas e a esperança é encontrar ainda em 2019, jovens ou senhoras com o chamado para a vida contemplativa. O DIÁRIO DE CARATINGA, jornal periódico de circulação regional, esteve no Mosteiro para uma entrevista especial com monsenhor Raul Motta de Oliveira e madre Maria do Rosário do Coração de Jesus.

 

A HISTÓRIA

Monsenhor Raul relembra que a história das monjas da Ordem da Imaculada Conceição em Caratinga começou em 1962. “O padre José Geraldo das Mercês, chamado de padre José Clara, que era daqui de Caratinga sugeriu, conversando com o padre Geraldo Magela e comigo na Catedral, essa ideia de trazer as irmãs aqui para a cidade. Depois então, ele entrou em contato com as irmãs de Macaúbas, no outro ano, no dia 4 de outubro de1963, elas já vieram para Caratinga. Durante o ano inteiro tentou-se organizar a casa para elas morarem, lá na Rua São José (Avenida Moacir de Matos). Era uma casa que o padre José Geraldo era dono, a família doou essa casa para ser o mosteiro e funcionou durante 50 anos, onde hoje é a Casa de Maria. Depois veio para aqui”.

Nesta primeira turma estava irmã Maria dos Anjos, que ainda reside no Mosteiro, gozando de saúde e acompanhando todos os horários de oração. Conforme monsenhor Raul, com o passar do tempo, o número de vocações foi diminuindo. “Muito tempo aqui teve muitas irmãs, quando o mosteiro fez 50 anos eram sete irmãs aqui. Havia sempre muitas vocações, daí para cá, Irmã Aparecida morreu, outra saiu, então ficaram só quatro. O problema está sendo esse, não pode haver mosteiro segundo orientação da Santa Sé somente com quatro irmãs, tem que ser no mínimo seis para funcionar. Estamos procurando moças ou senhoras de certa idade que queiram vir para aqui”.

 

TRABALHO E ORAÇÃO

Madre Maria do Rosário 58 anos, explica que o recolhimento e o silêncio são de grande importância para a vida contemplativa. Ela dá detalhes de como é a vida no Mosteiro, que está situado à Rua Santa Beatriz, 333, Bairro das Graças. “Levantamos às 4h50, temos oração que chama-se o Ofício Divino e dividimos a Santificação do Dia, várias horas durante o dia. Nossa vida aqui é trabalho e oração. Então, às 5h15 começamos a oração que se chama Matinas e Laudes, rezamos juntas por causa de ser poucas irmãs, mas deveria ser separadas. Das 6h até 6h45 temos meditação da leitura do dia, do Evangelho. Em seguida temos outra parte do Ofício Divino, que chama Tércia, rezamos e termina às 6h55. Nesse horário monsenhor Raul já começa a missa e depois temos o café”.

Após o café, tem início o trabalho. “Tudo feito por nós mesmas, cozinhamos, cuidamos de horta. Às 11h15 temos oração de novo, outra parte do Ofício Divino que chama Sexta, o terço e a ladainha de Nossa Senhora, que termina 11h50. Rezamos o Angelus e vamos para o refeitório, temos o almoço. Depois que termina, quem é dona da cozinha vai para a cozinha, outra vai mexer com a horta, outra irmã vai fazer a limpeza”.

Conforme Madre Maria do Rosário, o intervalo de 13h às 14h é destinado ao recolhimento, para que em seguida as orações sejam retomadas. “É hora do descanso, a Irmã mesmo que não queira descansar um pouco o corpo, pelo menos ficar recolhida ou até mesmo na capela, onde quiser, menos barulho. Nesse horário aqui é silêncio absoluto. Das 14h até 14h45 temos trabalho também, temos outra parte do Ofício Divino que chama Noa, termina 14h55. Temos trabalho de novo até as 16h55, toca o sino e vamos rezar Véspera, que é outra parte do Ofício, termina umas 17h20 e temos meditação até 17h50. Rezamos o Angelus e vamos para o refeitório para o jantar”.

Após o jantar, a responsável pelos afazeres da cozinha realiza o serviço e as outras monjas vão para o recreio, que segue até às 19h30. “Para conversar, brincar, à vontade, tem esse espaço. Após, tem dia que tem ensaio, porque tem Irmã que toca a missa, ou estudo, até 19h45. Quando é um estudo mais de comentário, vamos até as 20h. Em seguida, temos Completas, terminou o dia, a última parte do Ofício. Depois que termina esta oração, às 20h15, tem dia que a irmã vai ver o jornal, ela gosta e está livre para a gente descansar. No outro dia, começar de novo”.

As irmãs costumam receber visitas, mas isso não ocorre no Advento, primeiro tempo do Ano litúrgico, o qual antecede o Natal, e na Quaresma, período que antecede a Páscoa. “A Quaresma é um tempo mais de penitência, de oração”, explica.

As monjas ainda seguem outros momentos de oração e tem a rotina um pouco modificada no primeiro dia da semana. “Todas as quintas-feiras das 8h às 9h temos Adoração ao Santíssimo. Às sextas-feiras temos a Via Sacra, quando é na Quaresma fazemos às quartas também. O domingo modifica um pouco, levantamos no mesmo horário, tomamos o café antes da missa, que é às 8h. Depois, a dona da cozinha já vai para a cozinha e tiramos a oração das 15h, para ter a tarde livre, só temos às 17h. Porque somos poucas, para descansar mais, ficar um pouco mais à vontade. Também todos últimos domingos do mês temos retiro. Durante o ano temos uma semana com pregador”.

O Papa Francisco definiu a vida contemplativa como “o coração orante da Igreja”, frase que dá título à esta reportagem. E durante boa parte do seu dia, elas se dedicam exatamente às orações. Mas, a tecnologia também chegou ao Mosteiro (a casa conta dispõe de WhatsApp e e-mail, por exemplo). A Madre explica que o uso moderado destes recursos é permitido. “Comunicamos com a família, não é aquele caso de estar direto mesmo no telefone, mas isso é questão mais um pouco para preencher tempo. Tem que ser de maneira controlada. Hoje em dia é bom até para ajudar no estudo, a internet acaba sendo muito útil”.

Em fevereiro, as irmãs estavam dispostas a fechar o Mosteiro de Caratinga, por motivo da ausência de vocações há vários anos. No entanto, houve um pedido da diocese do prazo de mais um ano para convidar mais vocacionadas. Elas decidiram pedir a filiação ao Mosteiro de Macaúbas. Madre Maria do Rosário ressalta que caso não haja vocações, infelizmente, a decisão é fechar as portas em 2020. “Porque não tem condições, estamos com Irmã mais idosa, fica difícil para mantermos o mosteiro aqui. Neste caso seríamos transferidas e voltaríamos para o mesmo mosteiro de origem, o de Macaúbas. Em janeiro temos assembleia, quando será decidido definitivamente. Mas, se entrar vocação está pronto para continuar”.

 

ENCONTRO VOCACIONAL

A diocese de Caratinga está organizando um encontro vocacional, para o dia 17 de agosto, onde as candidatas católicas são chamadas a participar. “Será no dia da nossa fundadora, dia de festa, fica mais à vontade, pode brincar, pular, porque o dia todo fica à vontade mesmo. Pedimos àquelas que puderem, estar aqui na véspera, de tarde ou de noite; para já iniciarmos com missa das 7h do dia 17”, explica Irmã Maria do Rosário.

Monsenhor Raul explica que o momento será importante para conhecer a vida no Mosteiro, com a esperança de aumentar o número de vocacionadas. “Queremos convidar para conhecer o mosteiro, um pouco de sua história, como é a vida delas aqui, porque essas irmãs não são de vida ativa, são de vida contemplativa. São duas espécies de irmãs, da vida ativa são irmãs que trabalham em paróquias, colégios, hospitais; as nossas aqui não têm trabalho fora, a vida delas é rezando e contemplando a Deus. E rezando por nós”.

As candidatas que quiserem participar do encontro podem entrar em contato com o Mosteiro pelos telefones: (33) 3321-9741; WhatsApp Oi (33) 98850-2771 ou e-mail: mosteirorosario2018@gmail.com.

 

Texto e fotos: Diário de Caratinga

 


Fonte de Vida

FM 106,5

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